NORBERTO KEPPE*
Trechos do livro Contemplação & Ação
A civilização é uma imagem do ser humano, que é um espelho do Criador; vamos dizer que repetimos, em nós, os mesmos desígnios encontrados em Deus. De maneira que, em um primeiro tempo, havia um povo (escolhido) que se empenhava na percepção do Criador (o judaico). Em seguida, com a vinda do Verbo Divino (Jesus Cristo), foi necessária a criação de instituições especializadas, que falassem por ele, levando sua palavra a todos os povos — o que já foi realizado.
No momento, estamos notando que a dimensão do Criador é muito maior do que imaginávamos — estamos vendo um Deus universal, que se volta para todos os povos, que invade todas as áreas — principalmente a da realização e consciência, diretamente ligada à ciência. Temos de continuar com este trabalho, que é querido pelo Criador, porque faz parte de seus desígnios na criação. Aliás, toda pessoa, que o perceba, irá se entusiasmar por tal empresa; acredito mesmo que a humanidade está à espera desta fase, onde as pessoas se sentirão em comunhão com Deus, entrando pela senda tão esperada da paz.
A mesma percepção, que estamos tendo do Criador, vemos também em nós, enxergando-nos como seres mais universais, ligados tanto ao que chamamos de intelecto, como ao sentimento, à intuição, ao instinto; no plano social, temos a mesma responsabilidade, seja no setor político, econômico, religioso etc., isto é, a mesma verdade habita todos eles, que deverão se render a ela (a verdade).
Em minha opinião, a reunificação de toda a humanidade será realizada através da aceitação da verdade, da beleza e da bondade, que não é pertinente só a um campo, mas a todos os setores da existência: científico, filosófico, econômico, político e social, tendo por base o que chamamos de espiritualidade, que inunda todo o mundo sensível. Deus não habita apenas as quatro paredes de uma igreja, mas está presente em tudo o que existe, principalmente no interior do ser humano, que é a sua principal criação.
O relacionamento humano, seja através da palavra, ou do sentimento, é inteiramente espiritual. Por esse motivo, a psicologia antiga, helênica, falava em alma e espírito — que foi proibido pela psicologia moderna, científica, em uma clara atitude de rejeição ao aspecto fundamental do homem, ao tentar rebaixá-lo ao seu lado físico. Quando se cuida do espiritual, o material automaticamente é resguardado; mas, quando se tem cuidado só com o físico, o espírito é prejudicado.
O ser humano é provido de pensamento e sentimento, com os quais deve conviver vinte e quatro horas por dia. Quando aceita tal proposição, temos a pessoa equilibrada; mas, quando a nega, surge o que chamamos de personalidade dividida (esquizofrênica) e toda espécie de perturbação. O mesmo fenômeno de Deus acontece com o homem — com a enorme diferença que as três pessoas da Trindade são submissas uma a outra, e nós nem sempre somos assim.
Chegamos a uma fase praticamente ao contrário das anteriores, porque estamos agora falando a Deus sobre as nossas atitudes — explicando-lhe o motivo pelo qual agimos desta ou daquela maneira, aceitando ou recusando o seu reino. Até aqui, soubemos tudo sobre o Criador através do chamado Verbo Divino, Cristo, que veio à Terra com essa finalidade. Porém, estamos em uma era de esclarecimento de nossa conduta, já que um dia quisemos ser um misto de seres humanos e animais, com a pretensão de divinos. Temos agora que olhar para trás e ver toda uma série de enganos, que cometemos, para que consigamos desvirar o homem, que quis viver de pernas para o ar.
Estou dizendo que o reconhecimento total de Deus só irá se dar através da ciência, porque o Criador está em tudo o que existe: uma vez no amor, duas no verbo e três na consciência, isto é, na realização — evidentemente esta última fecha todo o ciclo da criação, porque completa também toda a imagem do Ser Divino, e do humano, como decorrência.
*Psicanalista, filósofo, cientista social, pedagogo e físico independente, autor de 43 livros, fundador e presidente da SITA – Sociedade Internacional de Trilogia Analítica, que unificou a ciência à filosofia e teologia.