Trecho do Livro História Secreta do Brasil, de Cláudia Bernhardt de Souza Pacheco
Toda a estrutura da obra de Keppe, a essência de seu trabalho, é a busca da interiorização do ser humano. Quer no campo psicoterápico, quer no da socioterapia, seu esforço é no sentido de que cada pessoa ou coletividade aceite olhar para seu próprio interior psicológico ou social, para suas dificuldades internas, a fim de saná-las. Neste ponto, sua obra caminha lado a lado com as máximas universais de cientistas, filósofos e teólogos, como Agostinho, segundo o qual “todo o homem interiorizado é bom” , Sócrates, que enunciou o “Conhece-te a ti mesmo” (em seu livro Auto Sentimento, Keppe acrescentou o “Sente-te a ti mesmo”); e Cristo, que recomendou a cada um: “Tira primeiro a trava de teu olho e então verás para tirar o cisco do olho de teu irmão”.
Keppe criou o método da interiorização (diferente da introjeção); consiste em usar tudo o que acontece, toda a realidade exterior como um espelho para que possamos sentir, contatar, conhecer e sanar nosso mundo interior. Aliás, a própria essência da Psicoterapia Trilógica é o contato do indivíduo com a realidade interna (e externa, em consequência).
Em seu livro A Consciência, 151 cujo nome diz tudo, Keppe enfatiza o papel fundamental, básico, da consciência humana como fonte de toda a realidade, desinvertendo a posição freudiana de que o inconsciente seria o alicerce da vida. Estamos doentes não por sermos vítimas de um inconsciente, mas por reprimirmos constantemente a consciência; a patologia é gerada não pelo que não sabemos, mas porque lutamos constantemente para reprimir o que no fundo conhecemos.
Quanto à espiritualidade, Keppe considera esse fenômeno natural no ser humano. Nas palavras do prof. Joseph Ghougassian, PhD, fundador e primeiro presidente do Congresso Mundial de Logoterapia, ocorrido em San Diego, Califórnia, em 1982, :
“Keppe dá um lugar proeminente à religião na vida do Homem. Religião não tem uma origem `cultural’. Apenas uma maneira de adoração é cultural. O Homem é, em seu íntimo, uma criatura ‘religiosa’. Se há várias cerimônias litúrgicas praticadas no inundo, isto é possível porque, em primeiro lugar, a religião é uma dimensão metafísica da realidade humana. Consequentemente, existe uma maneira primordial de adoração, natural para a alma. Orar, reverenciar, arrepender-se são impulsos naturais. Assim Keppe escreve: `Religião é algo inerente ao ser humano, não algo social’ . E um desfavor negar ao paciente o direito de trazer suas experiências religiosas ao consultório do psicoterapeuta.
Freud não teve sensibilidade quando ridicularizou a religião, considerando-a uma fonte de neurose. Ainda assim, nós somos uma civilização que foi construída na presença de Deus e nos Seus preceitos. Nesse aspecto, o sentimento religioso de Keppe caminha lado a lado com a análise do mundialmente renomado psicólogo de Harvard, Gordon W. Alport, sobre as crenças religiosas”. (prefácio do livro A Glorificação, op. cit.).
Em seu livro Contemplação e Ação 152 -, ao mesmo tempo que mostra os erros da conduta falsamente espiritualizada daqueles que chamou de “funcionários religiosos “, Keppe ressalta a importância que tem para nossa saúde e vida aceitarmos a espiritualidade autêntica, natural, que todos possuem no íntimo. Comparando o que acontece no campo psíquico (neuroses e psicoses) com o que ocorre no campo espiritual, e discorrendo sobre a verdadeira espiritualidade, Keppe escreveu, por exemplo:
“O evangelista (S. João) indicou-nos que Cristo não só estava em Deus, mas era também Deus – tendo criado tudo o que existe; portanto, a essência da própria vida, que é luz – e nós não o aceitamos, por termos fechado os olhos, caindo nas trevas. Tal atitude constitui a etiologia das moléstias.
Todas as pessoas que o aceitarem, isto é, que admitirem a luz, a verdade, o bem e o belo, tornar-se-ão filhos de Deus – o que advém pela aceitação de tal consciência, que é a verdadeira espiritualidade. Termina o evangelista afirmando que nós vimos a glória de Cristo, o Filho Unigênito de Deus – e que ninguém pode ter a desculpa de dizer que não o sabe – pois o fenômeno da Trindade Santíssima repete-se no ser humano, tendo-o entranhado em sua vida psíquica.”