A senhora L.G. disse que o marido a impedia de viver a existência que queria, colocando empecilho ao seu trabalho.
— O que a senhora associa ao seu marido? — perguntei-lhe.
— Dificuldades… dificuldades…
— Coloque o seu marido no seu interior.
— Ah! O senhor pensa que sou eu que estou dificultando minha existência?
— É a senhora que está dizendo.
Bem antes da descoberta do processo de inversão, eu vinha tentando levar o cliente a ver, em seu íntimo, tudo o que olhava na sociedade e nas outras pessoas. É muito conhecido o exemplo, de Freud, sobre o espelho que o psicanalista seria para os clientes. Pois bem, estendi tal conceito de modo geral ao mundo exterior, colocando todos os fatos externos como referência aos internos.
A interiorização é o processo mais importante em toda a Psicanálise Integral, porque constitui na volta ao próprio interior: a fonte da vida e felicidade.
O senhor J. V., com a idade de 32 anos, veio fazer psicanálise devido a suas dificuldades no relacionamento afetivo-sexual; era homossexual.
J.V.: — Eu tinha uma dor de cabeça, que me parecia mais de consciência, pois, quando saí daqui, desapareceu completamente.
Psicanalista: — Dor de consciência do quê?
J.V.: — Da minha vida perdida, da forma que eu levei a vida, com todas as minhas bobeiras; com as atitudes destrutivas, juntamente ligadas ao homossexualismo; minhas invejas, complexos, megalomania, arrogância… não sei se acredito nisso.
Psicanalista: — Por que não admite que o senhor possa cometer erros?
J.V.: — Eu acho que não aceito a consciência de meus erros; penso que faço tudo certo, direitinho. A procura que faço da perfeição é tão grande, que não me deixa ver os erros que cometo.
Note o leitor, neste ponto, que o cliente não procurava bem a perfeição, mas se achava perfeito — por esse motivo, tinha dificuldade em admitir seus erros. Esse perfeccionismo é muito ligado ao que eu chamo de teomania: o desejo do homem de ser um outro deus.
J.V.: — Eu sempre tive a opinião de que a mulher não presta; quando meu irmão namorava eu queria separar os dois.
Psicanalista: — Essa ideia de separar um do outro, a que o senhor associa?
J.V.: — Separar… Separar…
Psicanalista: — Separar o interior de si mesmo; colocar o afeto longe. Viver fora de si.
Os fatos externos demonstram os psicológicos; eles se constituem no meio mais eficaz para que conscientizemos nossa realidade
Se o leitor reparar bem, verá um novo tipo de interpretação da Psicanálise Integral. Enquanto Freud analisava sob o ponto de vista do Complexo de Édipo, nós interiorizamos o seu significado, vendo-o como o tipo de relacionamento que uma pessoa tem para consigo mesma, o que ela faz com a sua vida interior.
A interiorização foi o primeiro passo que dei na compreensão e formação dessa ciência — devendo ser a sua finalidade, isto é, a sua consecução. No momento em que o indivíduo estiver bem interiorizado, terá chegado ao final do processo. Interiorização é a percepção do próprio interior; é a verdadeira tomada de consciência, porque é o contato direto com ela. Aliás, nós consideramos a consciência como algo existente por si, esperando apenas que a aceitemos — e aceitando-a, estaremos em contato com o Criador.
Norberto R. Keppe
Extrato do livro A Glorificação
Psicanalista, filósofo, cientista social, pedagogo e físico independente, autor de 42 livros, fundador e presidente da SITA – Sociedade Internacional de Trilogia Analítica, que unificou a ciência à filosofia e teologia.
Boletim Informativo Ano I – N°4 | Faculdade Trilógica Keppe & Pacheco