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Lembro-me de que há trinta anos comecei a escrever um livro sobre medicina psicossomática, dentro do qual coloquei a histeria como fonte de todas as perturbações psíquicas. Não será difícil ao leitor, acostumado à literatura psicanalítica, verificar claramente uma inspiração freudiana — e também notar como Freud suavizou sobremaneira a etiologia das doenças humanas.

Só depois de trinta anos é que acredito realmente ter chegado à origem primeira de todos os males psicológicos e sociais, ou seja, a corrupção (interna) tanto na conduta como nos pensamentos e, principalmente, nas emoções. A maior parte dos seres humanos sente enorme prazer em corromper e estragar tudo; não são raros os indivíduos que pensam em jogar tinta nos quadros famosos, quebrar monumentos bonitos e arrebentar o mundo. Por esse motivo, o suicida acredita que está atacando a todos com o seu gesto — para não dizer do paranoico que agride diretamente. Essa é a causa fundamental de todas as doenças físicas, psíquicas e sociais.

Por que o ser humano corrompe? Essa pergunta foi feita a um grupo de clientes em psicoterapia, e nenhum deles foi capaz de responder.

Em análise individual, o adolescente L. M. falou que não estuda porque quer jogar futebol, que lhe causa mais prazer.

— Se você não estuda, o que lhe acontece? perguntei.

— Estrago minha inteligência.

— Então, o motivo principal de seu desprezo ao estudo é justamente o de corromper sua inteligência; não algo consciente, mas uma escolha que você faz sem notar (inconscientemente), eu lhe respondi.

Estou tentando trazer esse conhecimento para a humanidade:

1) que ela age em sua maior parte pelos sentimentos ruins, escondidos no inconsciente;

2) tal conduta nada tem a ver com a razão — que pouca influência exerce na vida da humanidade;

3) a corrupção é o elemento mais almejado porque é o que dá vazão à totalidade dos maus sentimentos que desejam se manifestar. Se não fosse assim, a sociedade não precisaria de leis para obrigar os seres humanos a agirem bem; não haveria nem exército ou polícia, desde que todos seriam leais à verdade.

A quase totalidade do tempo humano é consumido para “obrigar” o próximo e a nós mesmos a não causar demasiada deterioração. Cada ato do homem precisa ser controlado, para que não predomine a corrupção. Mas o mais interessante é que nem sempre tal atitude visa a colher benefícios — até parece que a maior parte é realizada visando ao próprio malefício!

A corrupção é antes de tudo mais danosa para o corruptor do que para qualquer outra pessoa — a não ser que ele tenha poder social; nesse caso, tudo muda de fi gura, e um só indivíduo assim poderá incendiar o mundo. Temos de diminuir os poderes que existem!

O ser humano está profundamente corrompido, seja pela própria natureza ou, principalmente, por sua vontade — ele age sempre de acordo com as vantagens imediatistas, e que não são honestas. Essa corrupção existe na base de toda conduta psicossocial, motivo pelo qual a humanidade chegou a um ponto quase sem retorno para uma verdadeira cultura e civilização.

O núcleo da problemática humana é a corrupção, que se tornou a base de todo o seu comportamento. Posso afirmar que o indivíduo louco é o “ignorante”, devido à luta que empreende contra o conhecimento; é fundamental notar que a palavra ignorância aqui não é sinônimo de escolaridade e que pouco diz quanto à verdadeira sabedoria, e geralmente até prejudica, ao bitolar a mente humana dentro de padrões parciais ou falsos da existência.

Norberto R. Keppe*, Extrato do livro A Libertação pelo Conhecimento – A Idade da Razão, pág. 18 – 2ª Edição

 

Jornal STOP – Edição Especial, publicada em parceria com Instituto Keppe & Pacheco | Ano IX – Nº8 

A Fonte de Todas as Perturbações está na Corrupção

As Mulheres e o Poder

Gestão de Conflitos – Psico-Sócio-Patologia

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